Alcácer do Sal, Sábado, 8 de Maio,
P.S.-Ás nove da manhã, partiste!
Passei mais tempo contigo estes dois meses, do que provavelmente nos meus trinta e cinco anos de vida.
Não imagino como te sentes!!!
Não imagino o que sentes quando cuidam de ti, do teu corpo, quando te damos de comer á boca?...
Não sei se sentes revolta ou se sentes saudades de fazer tudo sozinho.
Sei que não te sentes confortável por depender em tudo de terceiros, mas também nunca o demonstraste, nunca disseste uma palavra de desagrado a quem cuida de ti. Mas muita tristeza deves sentir e isso, vê-se no teu olhar.
O teu olhar, outrora matreiro, perspicaz, divertido, e agora resignado, triste, por vezes ausente, por vezes incógnito...
Hoje dormes!
Com mais dificuldade em respirar do que em dias anteriores, mas ao contrário de ontem, que não pregaste o olho, estás a descansar.
Estás mais prostrado, pouco ou nada comeste ao longo do dia.
Deveria ter ido para casa ontem, mas algo me fez ficar. Vou de manhã, e depois volto daqui a dois, três dias.
Quando te toco, abres muito os olhos e fixas-me com o teu olhar, mas depressa as pálpebras se fecham, e entras num sono profundo, ruidoso, que me está a deixar inquieta...
P.S.-
Calmo, sereno, comigo a teu lado, deixaste de sofrer e de estar dependente de quem quer que fosse!
Adeus Pai!
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