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Dias de Cansaço...


O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.


A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas-
Essas e o que faz falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queiora nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamento o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos


Comentários

Sandra Simões disse…
A poesia :) que veio de encontro a mim, suavemente e até marcante, fez-me redescobrir a leitura e literatura portuguesa.
Este é um dos nomes (do nosso querido Pessoa) que me desassossega por dentro, fazendo-me viajar pelas estradas e caminhos interiores...

Por vezes o cansaço não precisa de justificação, existe por si só.

Beijo doce minha linda.

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