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Vida depois da morte...

Doar o meu corpo à Ciência!!!
Tenho esta ideia há muito tempo, mas só hoje tratei de tudo...

Talvez porque hoje se assinala mais um aniversário da morte da minha prima. Tinha 29 anos, acidente de mota e fim!!!
Acabou tudo de repente e abalou para sempre as nossas vidas.
Um primo do outro lado da família morreria passados 6 meses, do mesmo modo.

É claro que ninguém pensa no que se quer que se faça depois da morte, aos vinte e tal anos!!!
Nem aos trinta e nem aos quarenta.
Mas a Morte é o que todos nós temos como certo.

Espero estar a meio da minha vida.
Espero morrer velhinha, cheia de rugas, gaiteira e ter desculpa para comer Nestun (ou cerelac) todos os dias, mas ninguém sabe o que nos espera...

Lido com a Morte há demasiado tempo.
Comecei cedo demais.
Aos 22 anos a cuidar de corpos sem vida, ainda quentes, acabados de morrer! 
Era demasiado nova...
Claro que depois queria era desanuviar e ir dançar uma noite inteira para me esquecer. Não resultou! Ainda me lembro de muitos. Outros esqueci, felizmente!

Nos últimos anos tenho estado afastada de doentes em internamento e tenho lidado somente com os "meus" mortos, ou seja, família!
Velório, funeral, etc.

Detesto todo o nosso culto dos mortos.
O nosso e qualquer outro.
A despesa que se tem com caixões e flores é completamente absurda!
Um caixão pode ir dos 500 aos 3000€! O caixão com madeira XPTO, com seda de pele de pêssego e renda de bilros??? What!?
O funeral todo não se faz por menos de 1700 euros, com o mais básico que há! e pode ir quase aos 5000€. Mesmo as cremações, que sempre achei serem uma medida mais económica, vai para os 2000€!!!

Para quê???

Para mim, não faz sentido!

Eu gosto que me venham ver ou que me ofereçam flores enquanto eu for viva!! (Podem ser antes livros, ou bolos)
Depois de eu morrer, não gastem dinheiro comigo. Por favor!

Fazer quilómetros para virem ao meu funeral???
Por amor da Santa! Não façam isso!! 
Usem esse dinheiro e façam uma jantarada, bebam uns copos e lembrem-se de mim!
Riam-se até vos doer a barriga a lembrarem-se das minhas trapalhadas todas!
Isso sim, será uma verdadeira homenagem!
Se no meio dos copos vos der para chorar, chorem também, mas não se sintam culpados por rirem, riam muito! Espero passar todo o resto da minha vida a rir, criar muitas rugas do riso e ter que usar corega para não me saltar a placa para fora da boca como aconteceu à avó Fernanda no meio da rua!! Não sintam culpa por rir depois de eu morrer. Foi das coisas que mais me incomodou após a morte dos meus familiares. Eu ria-me e depois sentia-me culpada por rir, como se estivesse a faltar ao respeito ao falecido ou à família.
Eu estarei a rir também, se puder, lá do outro lado! 

Também não quero ter um local de culto da minha morte!
Não quero que os meus filhos ou netos tenham a pressão ou sintam a obrigação de ir colocar flores na minha campa! Nem que condicionem a vida deles por isso! 
Se estiverem na Austrália ou no Meco, deixem-se estar!
Bebam um copo à minha memória e chega!

O melhor que podemos fazer uns pelos outros é em vida!


Claro que não critico ninguém que faça as coisas todas habituais. Funerais, velórios, ir levar flores, tudo isso. Quem sou eu para criticar seja o que for?  

Além deste meu des_gosto pela tradição do culto dos mortos, valores mais altos se levantam para mim.

O valor da ciência e da aprendizagem de quem trata dos vivos.

"Aprender nos mortos a cuidar dos vivos."

"A Anatomia é uma das bases fundamentais da formação médica. A sua importância resulta do papel indispensável que tem na aprendizagem dos alunos de Medicina, bem como na investigação científica e técnica que conduz ao progresso dos tratamentos médicos e cirúrgicos de muitas doenças. 
O seu conhecimento exige o estudo minucioso do cadáver humano."

É a trabalharem em corpos reais que os médicos aprendem a tratar de nós.

Ah e tal, existem modelos computorizados fantásticos. Pois é, mas os modelos têm sempre a mesma anatomia, os livros têm fotografias quase sempre idênticas e não há dois corpos exatamente iguais!

Daí a minha vontade de doar o meu corpo à ciência!

Contactei a Sociedade Anatómica Portuguesa há dois dias e hoje contactei a Faculdade de Medicina de Lisboa que me respondeu ao email passada meia-hora e enviaram já o formulário que é preciso assinar (no notário, claro) para lhes enviar depois. 
São muito disponíveis e responderam às minhas questões quase imediatamente.
Se estiverem interessados, deixo os contactos:  
telef: 21 798 5151 
Email: anatomia@medicina.ulisboa.pt 

Convém a família estar informada desta vontade e contactar a Faculdade escolhida em caso de falecimento. 
A faculdade deve ser a mais próxima do local onde se vive.
Em caso de internamentos, as unidades de saúde devem também ser avisadas que existe esta vontade da pessoa.

Posto isto, julgo que fica clara a minha vontade.

Não é assunto que se toque de ânimo leve, porque ninguém quer pensar na morte, e muito menos na sua...
É possível que nem todos os familiares concordem, mas a vida é minha, o corpo é meu e a morte será minha também.
Serei egoísta para com a família?
Talvez...
Não o serei certamente para com os médicos que aprenderem com o meu corpo e para com os seus futuros doentes que beneficiarão da melhor aprendizagem que tiveram!

E claro, já que têm que aprender com algum corpo, que aprendam num modelito jeitoso! :)



Imagem relacionada
Foto: Google Imagens
Visitem esta página no facebook: Doar o Corpo à Ciência





Comentários

MÓNICA disse…
E eu também te adoro! Muito, muito! ❤️❤️
Deolinda Sousa disse…
É um ser fantástico!! O futuro agradece...
Anónimo disse…
Bom dia Mônica.
Não sou muito de comentários,mas hoje, de facto fizeste com as tuas palavras,pensar.
Pensar,não morte de outra forma.
Obrigado
MÓNICA disse…
Obrigada Deolinda! Um grande beijinho para si.
MÓNICA disse…
Anónimo, obrigada pelas suas palavras. O objetivo é mesmo esse. Fazer pensar de outra perspectiva. Não pretendo convencer ninguém a fazer o que eu faço, só olhar para as coisas de várias formas.
😊
Helena Sobral disse…
Também eu tenho já os papéis para doar o meu corpo à ciência!

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